quarta-feira, 9 de março de 2011

NA CIA. DOS HOMENS


Quando constituímos, em meados de 2008, o agrupamento teatral Na Cia. dos Homens, com o propósito de encenar peças contemporâneas, nos deparamos com uma imensa gama de autores de distintas nacionalidades, cujos textos tinham como característica comum o “retorno à palavra”.
Observamos, no entanto, que, nesses autores, a palavra não tem a função, como na escola naturalista - que a grande maioria deles rechaça- de constituir personagens (ou o que se costuma entender como personagem). Em seus textos, não temos diálogos que nos forneçam-à medida que a encenação decorra ou à medida que lemos essas peças–dados que nos levem a compreender quem são essas “figuras”, que idade têm, se são casadas, se têm filhos ou, até mesmo, que papel exercem dentro da “história” que está sendo contada. Os dados sobre os personagens–antes fornecidos à exaustão–são tão somente sugeridos, remetendo-nos à questão da crise de identidade, característica marcante do mundo contemporâneo.
Estávamos, portanto, diante de um desafio: descobrir outras técnicas que nos possibilitassem encenar esses autores. A técnica naturalista de Constantin Stanislawski–na qual a maiorias do satores brasileiros foi e continua sendo formada - não se adequa à poética e a complexa visão de mundo que esses autores nos propõem, onde a tentativa de compreender o homem e o mundo em que vivemos, não parte de uma visão cartesiana e das relações entre causa e efeito.
Nessa busca por uma nova técnica, duas referências se apresentaram como fundamentais: o diretor teatral francês Claude Regy e o diretor de cinema–também francês–Robert Bresson.
O aprofundado estudo da obra e do pensamente desses dois artistas (principalmente Bresson, cujos filmes foram recentemente lançados no Brasil) e de estudiosos de suas obras, nos ajudaram a compreender melhor os elementos constituintes de um universo onde é fundamental que o ator torne-se “invisível” – para usar um termo do ator japonês Yoshi Oida, colaborador do diretor inglês Peter Brook. Ao mesmo tempo, o ator deve ser capaz de transitar pelas várias sensações solicitadas pelo texto, que em sua grande parte é formado por diversas narrativas, aparentemente independentes, que constituem o sentido da obra. Como primeiro resultado desta pesquisa, montamos o espetáculo O MONTACARGAS, de autoria de Harold Pinter, que cumpriu temporada inicial entre 04 de Julho e 30 de Outubro de 2009, tendo re-estreiado em 16 de janeiro de 2010 e permanecido até 28 de fevereiro do mesmo ano, sempre no Espaço dos Satyros.

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